Você é o que você gosta
Quem sou eu?
Quando não temos nada de prático nos atazanando a vida, a preocupação passa a ser
existencial. Pouco importa de onde viemos e para onde vamos, mas quem somos é
crucial descobrir. A gente é o que a gente gosta. A gente é nossa comida preferida, os
filmes que a gente curte, os amigos que escolhemos, as roupas que a gente veste, a
estação do ano preferida, nosso esporte, as cidades que nos encantam. Você não está
fazendo nada agora? Eu idem. Vamos listar quem a gente é: você daí e eu daqui. Eu
sou outono, disparado. E ligeiramente primavera. Estações transitórias. Sou Woody
Allen. Sou Lenny Kravitz. Sou Marilia Gabriela. Sou Nelson Motta. Sou Nick Hornby.
Sou Ivan Lessa. Sou Saramago. Sou pães, queijos e vinhos, os três alimentos que eu
levaria para uma ilha deserta, mas não sou ilha deserta: sou metrópole. Sou bala
azedinha. Sou coca-cola. Sou salada caprese. Sou camarão à baiana. Sou filé com
fritas. Sou morango com sorvete de creme. Sou linguado com molho de limão. Sou
cachorro-quente só com mostarda e queijo ralado. Do churrasco, sou o pão com alho.
Sou livros. Discos. Dicionários. Sou guias de viagem. Revistas. Sou mapas. Sou
Internet. Já fui muito tevê, hoje só um pouco GNT. Rádio. Rock. Lounge. Cinema.
Cinema. Cinema. Teatro. Sou azul. Sou colorada. Sou cabelo liso. Sou jeans. Sou
balaio de saldos. Sou ventilador de teto. Sou avião. Sou jeep. Sou bicicleta. Sou à pé.
Você está fazendo sua lista? Tô esperando. Sou tapetes e panos. Sou abajur. Sou
banho tinindo. Hidratantes. Não sou musculação, mas finjo que sou três vezes por
semana. Sou mar. Não sou areia. Sou Londres. Rio. Porto Alegre. Sou mais cama que
mesa, mais dia que noite, mais flor que fruta, mais salgado que doce, mais música
que silêncio, mais pizza que banquete, mais champanhe que caipirinha. Sou esmalte
fraquinho. Sou cara lavada. Sou Gisele. Sou delírio. Sou eu mesma. Agora é sua vez. Martha Medeiros